Mapeamento
de perfil. É essa a expressão que o grupo Invepar está utilizando para realizar
uma peneira dos funcionários da INFRAERO lotados em SBGR dos quais afirmam querer
contratar. Após este processo relâmpago que pretensiosamente objetiva conhecer
cada trabalhador a fim de que no final sejam feitas “propostas comerciais” a
cada um de nós. Compreensível.
Em meio a um cenário nebuloso em que até agora nada se tem de concreto com relação à política que o grupo Acsa-Invepar adotará em Cumbica, a única certeza é que em poucos meses a vida de mais de 1400 famílias deve mudar drasticamente. Muitos de nós adotamos este aeroporto como sendo nossa segunda casa e, em alguns casos, por que não dizer a primeira? A vida de muitos de nós foi alicerçada em São Paulo, em Guarulhos, em Cumbica, no aeroporto, na INFRAERO... Alguns misturaram a massa para o concreto do alicerce do prédio e estão até hoje conosco. Como dizem, “foram pegos no laço” em um período que trabalhar para o governo não era tão atrativo como hoje pode ser hoje.
Mas os tempos mudaram, os tempos mudam. É a impermanência da vida, o jogo do poder, o poder do capital. Quanto custa um aeroporto? R$ 16.213.000.000,00 segundo a Invepar. E quanto custa desestabilização da vida de um trabalhador? E de mais de 1400 deles? E de suas famílias? E quanto custa as amizades de uma criança cujos pais foram atingidos pela política petista de concessões e que agora todos terão de mudar de casa, de cidade, de estado, de vida, de futuro? Alguns dizem que isso é o progresso. Mas “Quem construiu Tebas, a cidade das sete portas? Nos livros estão nomes de reis; mas os reis carregaram pedras?” (Bertold Brecht).
Caso o aeroporto seja bem administrado, os jornalistas elogiarão a concessionária. Mas a Invepar sabe onde é a cabeceira 09 esquerda? Sabe espantar os carcarás da pista quando o B-777-300 está na final? Sabe agir numa situação de CVE? Sabe o que diz o anexo 14? Sabe quais são as medidas da rampa virtual? Sabe que raios é rampa virtual? A INFRAERO sabe? Eu sei que o fulano de tal setor sabe , o beltrano daquele outro também e eu aprendi alguma coisa. O conhecimento não está nas mãos das instituições, mas sim dos agentes. A INFRAERO não possuía ativos já que os aeroportos eram concessões da União. Os ativos dela são os próprios trabalhadores que detêm o conhecimento. Mas e se o aeroporto for mal administrado? No metrô do Rio atrasos e inoperância já fazem parte da rotina dos cariocas. Aí se costuma responsabilizar a administração anterior e não a Invepar. Mas o que de fato acontece por lá? Como será em Guarulhos? Qual é a política da Invepar em relação aos trabalhadores de suas concessões? O que farão com os trabalhadores que para lá migrarem após absorverem o conhecimento que julgarem necessário para tocar o barco? Em uma das reuniões perguntaram se após cincos anos não seríamos demitidos e logo veio a resposta: “Se você é uma pessoa que gera resultados vamos continuar com você”. Mas o que entendem por “gerar resultados”? Que subjetividade está aí implícita? Qual corrente da administração adotam?
Como se nota, este grupo deseja nos conhecer, saber o quanto e como podemos contribuir com seus investidores. Quanto cada um pode gerar de lucro (os tais resultados?). Mas em um relacionamento também devemos conhecer a contraparte. O que a Invepar tem a nos oferecer? Os companheiros de suas concessões estão satisfeitos com os salários, benefícios e política administrativa? Qual o valor que atribuem aos recursos humanos? Que política os norteiam para obtenção do lucro? Creio que somente realizando essas problematizações poderemos deixar a passividade para a condição de agentes nesse processo. Somente reconhecendo o devido valor que possuímos, o conhecimento que adquirimos, a importância que temos é que se realiza a plena condição de negociarmos qualquer coisa. Se o valor de um trabalhador tem de ser quantificado em preço, porque o mercado assim o exige, então lutemos para que seja algo valioso, como realmente é.
A proposta dessa página é que, com a contribuição de todos, possamos reunir informações úteis acerca de todos os envolvidos neste processo com a finalidade de tomarmos a melhor decisão. Tal qual em um processo eleitoral em que é preciso conhecer os candidatos para exercer o voto consciente. A diferença é que em nosso caso não podemos votar nulo. Obrigatoriamente temos de discutir, trocar informações. Se alguns podem achar que o voto individual tem pouco peso na escolha do destino da nossa cidade, estado ou país, fica difícil sustentar que a escolha aqui não fará toda a diferença em nossas vidas e de nossas famílias.
Portanto divulguemos esta página, postemos informações, troquemos ideias. Aqui deve ser um espaço amplo e democrático, aberto a todos, inclusive ao concessionário. Para que todos possam escrever sem medo, a identificação não é obrigatória. Encerro esta breve apresentação com um poema do grande dramaturgo alemão Bertold Brecht. Abraço a todos!
Clayton
Fontes Rego
“Fragen eines lesenden Arbeiters”
(Perguntas de um trabalhador que lê).
Quem construiu Tebas, a cidade das sete portas?
Nos livros estão nomes de reis; os reis carregaram pedras?
E Babilônia, tantas vezes destruída, quem a reconstruía sempre?
Em que casas da dourada Lima viviam aqueles que a
edificaram?
No dia em que a Muralha da China ficou pronta,
para onde foram os pedreiros?
A grande Roma está cheia de arcos-do-triunfo:
quem os erigiu? Quem eram
aqueles que foram vencidos pelos césares? Bizâncio, tão
famosa, tinha somente palácios para seus moradores? Na
legendária Atlântida, quando o mar a engoliu, os afogados
continuaram a dar ordens a seus escravos.
O jovem Alexandre conquistou a Índia.
Sozinho?
César ocupou a Gália.
Não estava com ele nem mesmo um cozinheiro? Felipe da
Espanha chorou quando sua frota
naufragou. Foi o único a chorar?
Frederico Segundo venceu a guerra dos sete anos. Quem
partilhou da vitória?
A cada página uma vitória.
Quem preparava os banquetes comemorativos? A cada dez anos
um grande homem.
Quem pagava as despesas?
Tantas informações.
Tantas questões.