Um
episódio nos últimos dias acerca da destituição arbitrária de um encarregado de
pátios em SBGR mobilizou mais de duas centenas de pessoas a favor da revogação
do ato administrativo que ainda seria publicado e ratificaria a perda de seu
cargo. O coordenador e o gerente de operações mantiveram sua decisão,
demonstrando com isso o caráter centralizador, hierárquico e nada democrático
de poder no interior da empresa pública.
A
atual e arcaica estrutura de poder que rege a administração da empresa pública,
em que os cargos são considerados função de confiança, favorece o apadrinhamento,
a ineficiência, a corrupção, o desperdício de pessoal qualificado, além de
desmotivar uma gama de funcionários que realmente trabalham e se dedicam, mas
nunca são promovidos por não se submeterem às regras moralmente questionáveis
daqueles que detém o poder.
É
muito comum no interior destas empresas, e a Infraero é o exemplo na qual me
baseio, mas que pode estendido às demais empresas do gênero, os tais “jabutis
no galho”. Expressão uma vez utilizada pelo então Ministro da Defesa Nelson
Jobim quando se referia ao quadro da Infraero ocupado por indicações políticas, sobretudo PT e
PMDB, que formam a coalizão que governa nosso país. “Jabuti não sobe em árvore
e se está lá é porque alguém colocou”. O mesmo muitas vez acontece com os
cargos de confiança no interior dessas empresas. Pessoas sem conhecimento,
capacidade e experiência necessárias são nomeadas para ocuparem estes cargos. O
resultado não é difícil imaginar.
Pessoas
altamente capacitadas, com às vezes décadas de experiência, dezenas de cursos
são mantidas no ostracismo por questionarem o funcionamento destas instituições
e por defenderem e praticarem os princípios nos quais acreditam. Perde a
empresa e perde a sociedade como um todo que tem de sustentar um modelo falido
de administração. Os exemplos disso tudo estão aí: É o Tribunal de Contas da União
embargando obras superfaturadas, frequentes sindicâncias, o Ministério Público
condenando a Infraero a devolver dinheiro aos cofres pelo mal uso dele,
como no caso do Terminal 4 recém inaugurado em que a obra foi contratada junto
a construtora Delta sem licitação, sem falar de outros tantos contratos milionários em que empresa X é beneficiada com a justificativa de serem contratos
emergenciais. Deixa-se propositadamente a situação ficar crítica para dispensar
a licitação. E o preenchimento dos cargos de confiança? Se fosse entrar em
maiores...
Basta
dizer que o apadrinhamento pelos motivos mais escusos possíveis é o que muitas
vezes rege o preenchimento destas vagas. Os exemplos são muitos e, por questões
éticas, palavra que estes padrinhos desconhecem, abster-me-ei de citar nomes
aqui. É considerado natural assistir determinada gestão sindical enxertar “companheiros”
sem nenhum respaldo nestes cargos; secretária, dessas que atendem telefone,
marcam reunião e fazem outros serviços, virar coordenadora da noite para o dia;
pessoas sem cargo virarem gerentes em espaço de tempo relâmpago, tipo blitzkrieg mesmo; outras que são promovidas
prejudicando os colegas, as chamadas “traíra”.
Por
final, gostaria de dizer que não tenho tempo e disposição para me ressentir com
qualquer pessoa que tenha se achado citada no texto. Não citei nomes porque a
crítica, embora utilize exemplos observáveis, é com o sistema como um todo e
não ao indivíduo em si. Acredito que é a configuração destas instituições,
juntamente com a cultura predominante da vantagem, do “jeitinho”, da troca de
favores que produza e reproduza comportamentos assim. Estes h´´abitos estão
nas grandes instituições porque primeiramente foram ratificados no âmbito
ordinário. É o sujeito que fura a fila do banco, que ao perceber o troco a mais
na padaria fica quieto, que vende o voto a troco de uma cesta básica. Estes
comportamentos podem ser tão comuns que passam a ser naturalizadas pelo corpo
social.
Hoje
mesmo presenciei uma situação em que dois funcionários de uma companhia aérea
empurravam um cadeirante, passando pela fila de prioridade na imigração e na
alfândega que, diga-se de passagem, estava um verdadeiro inferno por conta de
uma fiscalização mais detalhada. Até aí normal, tem de haver fiscalização e tem
de haver fila de prioridade. No entanto o cadeirante era uma pessoa que
aparentava vender e distribuir saúde. Resolvi disfarçadamente seguir as duas almas caridosas e assim que chegaram ao saguão de desembarque o passageiro quase
que por um milagre se levanta, agradece os colaboradores, pega suas bagagens e
sai caminhando alegremente. Está tudo registrado na coordenação de segurança.
Não
esqueçamos ainda que políticos nomeados por meio de eleição direta são
representantes da população, ou de uma parte dela, o que pode representar um
comportamento como este senão outro igual? Não me admiro quando ouço escândalos
de corrupção de vereadores e deputados, acharia estranho e excepcional um
exemplo de honestidade. Mas, felizmente, temos muitas pessoas honestas e
conscientes em nossa sociedade e também políticos que as representam. São estas
que ainda me fazem acreditar que o nosso país tem solução.